Na noite da última quinta-feira (24), em Brasília, a agricultora Júlia Serrim, de 53 anos, atendida pelo escritório local da Empresa de Assistência técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Portel, no Arquipélago do Marajó, foi empossada “Embaixadora da Região Norte” dentro da campanha internacional de emponderamento das mulheres rurais rumo ao desenvolvimento sustentável (#mulheresrurais), organizada pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Reunião Especializada em Agricultura Familiar no Mercosul (Reaf).
“É um reconhecimento, uma felicidade, uma honra. Volto para Portel com um troféu no coração, que é mostrar para milhares de mulheres da minha terra que é possível, sim, construir uma história de sucesso no campo e que o governo oferece meios que estão disponíveis para a mulher do campo que deseje ter um negócio, conseguir capital, movimentar as comunidades e crescer cada vez mais”, declarou a produtora marajoara, que entregou às autoridades presentes souvenires feitos com produtos artesanais da floresta, feitos a partir de sementes e bambu.
A campanha se estenderá até novembro e cobrirá toda a América Latina e Caribe com diversas ações, entre oficinas, mutirões de serviços e programações culturais. A Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário estima um universo de mais de 14 milhões de agricultoras no Brasil, responsáveis por 45% da produção agrícola nacional, segundo o Censo Agropecuário de 2006.
Também participaram do lançamento a delegada federal de Desenvolvimento Agrário no Pará, Cleide Amorim, ex-presidente da Emater e única mulher a presidir o órgão até hoje, e o supervisor do escritório regional da Emater, Alcir Borges.
“Esta é uma oportunidade de visibilidade, de união e de força do trabalho da Emater do Pará e especificamente da equipe de Portel. O desafio é grande, mas o empenho é maior ainda. Agradecemos o reconhecimento e entendemos que ressignificação da atividade produtiva no contexto da Amazônia perpassa gerações, fronteiras e políticas”, resume Borges.
Júlia Serrim, acompanhada pela Emater há cerca de dez anos, vivia do extrativismo ilegal de madeira até a fiscalização tornar inviável a atividade. Ela, então, se viu sem renda, mas com uma propriedade de mais de 100 hectares ainda sem exploração sustentável. Com o apoio da Empresa de Assistência Técnica, hoje ela trabalha com turismo rural, artesanato, plantio de mandioca, produção de farinha, cultivo de frutíferas e beneficiamento de polpas. Só de crédito da linha Agroindústria do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), Júlia conseguiu o valor de R$ 40 mil, liberados pelo Banco do Brasil a partir de projeto elaborado pela Emater. A capacidade da agroindústria mantida por ela é de cerca de 300 quilos de polpa por semana, sobretudo de cupuaçu, açaí, acerola e taperebá. São 14 adultos na linha de produção, todos da mesma família, trabalhando juntos.
De acordo com o engenheiro florestal do escritório local da Emater em Portel, Milton Costa, Júlia Serrim é uma referência: “O processo de transição do extrativismo ilegal de madeira para a agroecologia rentável pelo qual ela passou é um exemplo do que a Emater pode fazer de mãos dadas com os agricultores familiares. Portel só tem a se desenvolver com a diversificação das atividades nas propriedades e com a mobilização das comunidades no sentido de que é preciso fortalecer a agricultura familiar”, afirma.
Por Aline Miranda/AGPA
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