segunda-feira, 27 de julho de 2009

AS DUAS OPINIÕES / *Por: Tibério Alloggio

Opinião pública e opinião publicada.
Mas qual é a diferença entre elas?
Ao longo dos anos, cientistas políticos como Fábio Wanderely Reis (entre outros) já vinham apontado para o uso impróprio do termo “opinião pública”, para definir a mídia escrita, falada e vista, e os setores sociais médio-altos que mais tem acesso a ela.
“Opinião pública” na verdade é a opinião do povo que se manifesta a cada eleição geral, ao eleger o presidente e os demais representantes da República, e cujo humor pode ser captado pelas pesquisas de opinião.
Foi a “opinião pública” que elegeu Lula e, pelo resultado das inúmeras pesquisas sucessivas, continua lhe apoiando quase que unanimemente.
Pelo contrário, a “opinião publicada” é aquela veiculada pelos meios de comunicação (a dita mídia) que produz as matérias que seus leitores e ouvintes gostam de ler, assistir e ouvir.
Nas regiões mais desenvolvidas do país, onde a penetração da mídia é maior, os veículos de comunicação acabam por se acharem mesmo “opinião pública”. Nessa crença, colunistas e analistas, vivem a ilusão de serem eles, os próprios “formadores de opinião”, quando na verdade são apenas “editores” da opinião do segmento da população que os acompanham.
Ou seja, uma categoria de pretensos “formadores de opinião”, que por se acreditarem formadores de opinião, falam ou rabiscam em nome da “opinião pública”.
Ledo engano.
As pesquisas indicam que a “opinião publicada” pela mídia, considerando os leitores dos jornais, revistas, ouvintes de rádios ou assistentes de comentários e opinião na TV, não passa do 20% da “opinião pública”.
A outra grande ilusão dos pretensos formadores de opinião é que pelo fato de serem lidos, ouvidos e assistidos pelos políticos, esses os seguem e/ou os temem, se dobrando e/ou acatando à sua opinião.
Uma ilusão que caiu por terra na hora que um deputado “Zé Ninguém” admitiu que estava se “lixando para a mídia”, ferindo a alma desses profissionais que por se sentirem depreciados e ofendidos, reagiram de forma furibunda.
O deputado Zé Ninguém acabou por ter que se explicar na mídia, mas sem parar de se “lixar dela” junto aos demais colegas, na hora de inocentar o “Rei do Castelo”.
Mas afinal das contas, o Rei do Castelo não era tão importante assim. Fazia parte do baixo clero e só passou a ser “visto” e atacado pela mídia porque tentou subir um degrau da hierarquia da Câmara.
Agora, com seu retorno ao baixo clero, a mídia já o esqueceu. Ainda que retornando (vez em quando) aquele refrém de um inusitado castelo em São João do Nepomuceno. Me desculpem os mineiros, mas onde fica mesmo esse lugar?
A “opinião publicada” desde que Lula chegou ao poder não sossega, vive indignada com isso, com aquilo e com aquilo outro, e agora também com José Sarney. Porém, a “opinião pública” não dá a mesma importância.
Enquanto a “opinião publicada” quer o afastamento de Sarney, a “opinião pública” é, em sua maioria indiferente: “é tudo ladrão, querem tirar um, para colocar outro”.
Enfim, raramente a “opinião pública” é afetada pela opinião dos supostos “formadores de opinião”.
Se de um lado a “opinião publicada” não arrenda o pé em fazer oposição ao Lula, do outro, a “opinião pública” continua firme e forte a seu favor. E o presidente Lula, que é “macaco velho”, já sabe como se dirigir à “opinião pública” se “lixando da opinião publicada” que embora o conteste e faz gracinhas de suas gafes, nem sequer consegue atingi-lo.
Apesar do tempo que já passou, a classe média-alta continua acreditando piamente que representa a “opinião pública”, na pretensão de que os políticos ajam segundo o que ela pensa, se recusando em admitir que os políticos agem com os olhos voltados para o seu próprio eleitorado.
Enquanto a “opinião publicada” não reconhecer essa diferença, continuará não entendendo o Brasil.
* É sociólogo e reside em Santarém.

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