A preocupação se estende à Associação dos Municípios do Marajó (Amam). Hermes Rodrigues de Souza Filho, assessor técnico da Gerência de Agricultura e Meio Ambiente da entidade, disse que houve ainda a construção de barragens e o desvio de igarapés e rios em algumas áreas. "Como se trata de relatos da comunidade local, após o dia 15 desse mês eu irei para a região para fazer uma avaliação ‘in loco’, para ter dados precisos do que está ocorrendo lá", revelou.
Segundo Hermes, várias situações têm sido observadas desde que a atividade ganhou força em Cachoeira do Arari. "Primeiro, de uma forma direta, tem a apropriação das áreas através de compra de posse dos ribeirinhos, do povo marajoara. E depois, literalmente, a mudança da paisagem natural. Porque essa área do Marajó tem campos naturais. Eles fazem a limpeza de toda a vegetação nativa e plantam o arroz, sendo que dentro desse ecossistema existem diversos espécies regionais de pássaros, peixes que procriam nessas áreas. Então, existe um prejuízo ambiental muito grande, além do social, com a ‘expulsão’ dos ribeirinhos e nativos", argumentou.
A lavoura que tem causado polêmica pertence ao fazendeiro Paulo César Quartiero, deputado federal por Roraima e que possuía plantações de arroz na reserva indígena Raposa Serra do Sol, também naquele Estado. Em entrevista concedida a O LIBERAL ele diz que, em Cachoeira do Arari, a lavoura possui cerca de mil hectares, onde ele utiliza "a mesma tecnologia empregada em todo o mundo", afirma. "Evidente que temos cuidado com o meio ambiente. Todo mundo tem. Trabalhamos aqui com licença ambiental, usamos produtos autorizados pelo Ministério da Agricultura", enfatiza Paulo César. O beneficiamento do produto colhido no Marajó, ainda de acordo com Quartiero, é feito em Icoaraci. Em seguida, o arroz, que o produtor afirma ser "um dos melhores do mundo", é comercializado em cidades paraenses, especialmente em Belém e Santarém. A empresa do parlamentar existe há 35 anos na Amazônia.
Quartiero garante também que não usa agrotóxicos na produção. "As moléculas que nós usamos aqui são usadas nos remédios vendidos nas farmácias que as pessoas compram sem receita. Temos um controle extraordinário. Utilizamos água do rio Arari, que é barrenta e quando sai da lavoura volta limpa", disse. O deputado federal nega também que tenha construído barragens ou feito desvios de igarapés. "Acho que nem tem igarapé na fazenda. O que têm são uns riozinhos que tem água quando é período de chuva e quando não é secam", declarou.
DISCUSSÃO
Mesmo com os argumentos do fazendeiro, a discussão em torno do assunto está longe de terminar. No dia 20 desse mês, deve ser realizada uma audiência pública no município de Cachoeira do Arari para debater a produção de arroz em larga escala na região. "Na verdade, essa situação está indo em um sistema desordenado, porque não tem controle e monitoramento de nenhum órgão ambiental. Nós não somos contra que se faça esse tipo de produção, mas que se faça com controle. Uma área desse tamanho não se consegue licença ambiental com tanta facilidade", disse Assunção Novaes, conhecido como Cacau, coordenador do Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó (Codeten).
Diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Alacid Nunes Filho, que também é médico veterinário e produtor rural, diz que, a princípio, a entidade não identificou nenhum problema com a produção de arroz no Marajó. Ao contrário, acredita que a lavoura pode gerar desenvolvimento para a região. "Porque antes era uma fazenda que estava parada, improdutiva. O problema ocorre porque as ONGs querem que seja um santuário ecológico. Mas porque Marajó está na Globo? Por causa do búfalo. Se virar um santuário não vai mais poder ter produção pecuária, produção de búfalo. A minha visão como produtor e marajoara é que precisa haver um certo cuidado com o que essas ONGs estão divulgando. Tudo o que for dentro da Lei, dentro da legalidade, nós apoiamos", declarou Alacid, que é ainda diretor técnico do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária.
José Megale, autor do requerimento que pede a sessão especial na Assembleia Legislativa para discutir o assunto, afirma que não é contra a atividade produtiva em Cachoeira do Arari. Ele argumenta, porém, que o ecossistema do Marajó "é extremamente frágil, ainda em formação". Por isso, Megale acredita que toda questão que envolve o meio ambiente deve ser tratada de forma muito criteriosa. "Para diminuir os impactos que podem gerar para a região", justifica. Ele avalia que o plantio de arroz deve influenciar não apenas na questão ambiental como na social, com a possível diminuição do pescado para as famílias que vivem nas localidades próximas.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) informou, por meio que nota, que segundo o diretor de Gestão Florestal da Sema, Otávio Chaves, não há nenhuma licença concedida pela Sema para esse plantio. O órgão, ainda de acordo com a nota, investigará as informações para tomar as devidas providências.
Fonte: O Liberal (25/03/12)
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