Com 54 anos de vida e 30 anos após naufrágio, barco continua na ativa
A hidrovia Solimões-Amazonas, cuja abrangência vai de Tabatinga a Belém (PA), é palco para o transporte de 5 milhões de passageiros mensalmente e de aproximadamente 7 mil toneladas de carga anual. Pelos rios dela, contudo, circulam verdadeiras arapucas fluviais que afundam a ciclos regulares e repetem uma história que nesta segunda-feira completa 30 anos envolta em mistério e impunidade. É o naufrágio do Barco Motor Sobral Santos 2, que foi a pique no porto do município de Óbidos, no Oeste do Pará, quando cumpria a linha Santarém-Manaus.
No acidente morreram entre 250 e 300 passageiros, mas a tragédia não bastou para evitar os riscos que até hoje correm os que se aventuram por este meio de transporte na rota entre Manaus e Belém, a mais concorrida da hidrovia.
A viagem final do Sobral Santos 2, um barco motor construído em 1957, começou por volta de 19 horas do dia 18 de setembro de 1981 no chamado caiszinho de Santarém, e a dois quilômetros do porto da cidade, de onde ele partira uma hora antes autorizado pela Delegacia Fluvial de Santarém.
Ao longo do dia ele recebeu aproximadamente 300 toneladas de carga, 200 limitadas pela sua capacidade e mais 100 que estavam no barco motor Emérson. O excesso, contudo, não era suficiente e, ao chegar no caiszinho, o Sobral Santos embarcou mais 100 toneladas do barco Miranda Dias, também em pane, e outros 100 passageiros, cujos nomes não constaram na relação dos 430 registrados inicialmente.
Na noite fatal, de Santarém o Sobral, considerado o barco mais seguro da região, por ser de ferro; confortável, pelo total de passageiros que levava e ainda possuir uma área de lazer no terceiro passadiço; e veloz, tinha motor de 600 cavalos, partiu com excesso de passageiros e de cargas rumo a cidade cujo cemitério recebeu a sepultura de estimados 200 passageiros.
A carga do Sobral Santos era composta por hortifrutigranjeiros produzidos na região Oeste do Pará e aproximadamente seis mil garrafas de refrigerantes e cervejas, que seriam abastecidos em Manaus. O jornalista Celivaldo Carneiro lembra que a partida do Sobral Santos era um evento porque levava para Manaus a riqueza da região e trazia o que os municípios precisavam. “Hoje tem barco de Monte Alegre, Prainha, para Manaus. Naquela época não, os produtores traziam feijão, farinha, arroz e embarcava tudo em Santarém para abastecer Manaus”, relata.
O Engenheiro Florestal Cristovam Senna, em cuja biblioteca Boanerges Senna estão guardados jornais que contam a história da tragédia, lembra que o naufrágio causou grande comoção na cidade, onde a maioria dos habitantes conhecia ou era parente de alguém que ia naquela viagem. “A navegação melhorou, até porque não podia piorar, mas naquela época houve excesso de passageiros e de carga e isso causou o naufrágio”, diz.
A versão mais aceita aponta o deslocamento da carga como causa principal do naufrágio. A carga estava mal acondicionada, grades de cerveja e refrigerantes não estavam amarradas e após a atracação no porto, com a movimentação de passageiros para a amurada, a carga fez movimento semelhante e causou o adernamento do Sobral Santos, que mergulhou nas águas barrentas do rio Amazonas em menos de cinco minutos. Estima-se que não levou 10 segundos para percorrer os 130 metros de profundidade e bater no solo do rio. “Quando ele sumiu houve um silêncio. Aquelas pessoas morreram sem poder pedir socorro, sem poder gritar”, emociona-se o comerciante Maurício Hamoy, 58, que estava no porto de Óbidos. “Só depois de uns dez minutos as vítimas começaram a emergir e gritar por socorro no meio do rio, muitas delas sobreviveram ao naufrágio, mas não resistiram a correnteza e foram arrastadas, morrendo da mesma forma”, conta, emocionado, Hamoy.
Os primeiros corpos das vítimas começaram a ser resgatados na manhã mesma do naufrágio.
Resgate difícil
A profundidade e a correnteza atrapalharam o resgate, que precisava ser feito por mergulhadores profissionais. Uma equipe de mergulhadores da Marinha, baseada no 4º Distrito Naval, em Belém, entrou numa corveta e chegou a Óbidos quase dois dias depois e iniciou o resgate. Escafandristas retiraram um número indeterminado de mortos, mas a maioria ficou desaparecida.
Oficialmente há relatos de 178 sobreviventes. O inquérito que apurou o acidente foi feito por um oficial da Delegacia de Santarém, mas o documento não pode ser encontrado lá, no 4º DN ou no 9º Distrito Naval, em Manaus. No 4º DN, o oficial de comunicação informou que o prazo para guarda desse tipo de documento é de 10 anos e não havia nada referente ao naufrágio do Sobral Santos nos arquivos do órgão militar. Sem dados oficiais, resta a versão dos sobreviventes.
O Sobral Santos pertencia a Empresa de Navegação Onze de Maio (Onzenave), do empresário Calil Mourão, e tinha permissão para transportar 500 passageiros e 200 toneladas de carga. Doze dias após naufragar, ele voltou a flutuar graças ao içamento feito pelo guindaste João Pessoa e foi vendido para o empresário Isaac Hamoy que o rebatizou de Cisne Branco. Hoje ele pertence a Empresa de Navegtação AR Transporte, e tem autorização para levar apenas 232 passageiros e 160 toneladas de carga.
No acidente morreram entre 250 e 300 passageiros, mas a tragédia não bastou para evitar os riscos que até hoje correm os que se aventuram por este meio de transporte na rota entre Manaus e Belém, a mais concorrida da hidrovia.
A viagem final do Sobral Santos 2, um barco motor construído em 1957, começou por volta de 19 horas do dia 18 de setembro de 1981 no chamado caiszinho de Santarém, e a dois quilômetros do porto da cidade, de onde ele partira uma hora antes autorizado pela Delegacia Fluvial de Santarém.
Ao longo do dia ele recebeu aproximadamente 300 toneladas de carga, 200 limitadas pela sua capacidade e mais 100 que estavam no barco motor Emérson. O excesso, contudo, não era suficiente e, ao chegar no caiszinho, o Sobral Santos embarcou mais 100 toneladas do barco Miranda Dias, também em pane, e outros 100 passageiros, cujos nomes não constaram na relação dos 430 registrados inicialmente.
Na noite fatal, de Santarém o Sobral, considerado o barco mais seguro da região, por ser de ferro; confortável, pelo total de passageiros que levava e ainda possuir uma área de lazer no terceiro passadiço; e veloz, tinha motor de 600 cavalos, partiu com excesso de passageiros e de cargas rumo a cidade cujo cemitério recebeu a sepultura de estimados 200 passageiros.
A carga do Sobral Santos era composta por hortifrutigranjeiros produzidos na região Oeste do Pará e aproximadamente seis mil garrafas de refrigerantes e cervejas, que seriam abastecidos em Manaus. O jornalista Celivaldo Carneiro lembra que a partida do Sobral Santos era um evento porque levava para Manaus a riqueza da região e trazia o que os municípios precisavam. “Hoje tem barco de Monte Alegre, Prainha, para Manaus. Naquela época não, os produtores traziam feijão, farinha, arroz e embarcava tudo em Santarém para abastecer Manaus”, relata.
O Engenheiro Florestal Cristovam Senna, em cuja biblioteca Boanerges Senna estão guardados jornais que contam a história da tragédia, lembra que o naufrágio causou grande comoção na cidade, onde a maioria dos habitantes conhecia ou era parente de alguém que ia naquela viagem. “A navegação melhorou, até porque não podia piorar, mas naquela época houve excesso de passageiros e de carga e isso causou o naufrágio”, diz.
A versão mais aceita aponta o deslocamento da carga como causa principal do naufrágio. A carga estava mal acondicionada, grades de cerveja e refrigerantes não estavam amarradas e após a atracação no porto, com a movimentação de passageiros para a amurada, a carga fez movimento semelhante e causou o adernamento do Sobral Santos, que mergulhou nas águas barrentas do rio Amazonas em menos de cinco minutos. Estima-se que não levou 10 segundos para percorrer os 130 metros de profundidade e bater no solo do rio. “Quando ele sumiu houve um silêncio. Aquelas pessoas morreram sem poder pedir socorro, sem poder gritar”, emociona-se o comerciante Maurício Hamoy, 58, que estava no porto de Óbidos. “Só depois de uns dez minutos as vítimas começaram a emergir e gritar por socorro no meio do rio, muitas delas sobreviveram ao naufrágio, mas não resistiram a correnteza e foram arrastadas, morrendo da mesma forma”, conta, emocionado, Hamoy.
Os primeiros corpos das vítimas começaram a ser resgatados na manhã mesma do naufrágio.
Resgate difícil
A profundidade e a correnteza atrapalharam o resgate, que precisava ser feito por mergulhadores profissionais. Uma equipe de mergulhadores da Marinha, baseada no 4º Distrito Naval, em Belém, entrou numa corveta e chegou a Óbidos quase dois dias depois e iniciou o resgate. Escafandristas retiraram um número indeterminado de mortos, mas a maioria ficou desaparecida.
Oficialmente há relatos de 178 sobreviventes. O inquérito que apurou o acidente foi feito por um oficial da Delegacia de Santarém, mas o documento não pode ser encontrado lá, no 4º DN ou no 9º Distrito Naval, em Manaus. No 4º DN, o oficial de comunicação informou que o prazo para guarda desse tipo de documento é de 10 anos e não havia nada referente ao naufrágio do Sobral Santos nos arquivos do órgão militar. Sem dados oficiais, resta a versão dos sobreviventes.
O Sobral Santos pertencia a Empresa de Navegação Onze de Maio (Onzenave), do empresário Calil Mourão, e tinha permissão para transportar 500 passageiros e 200 toneladas de carga. Doze dias após naufragar, ele voltou a flutuar graças ao içamento feito pelo guindaste João Pessoa e foi vendido para o empresário Isaac Hamoy que o rebatizou de Cisne Branco. Hoje ele pertence a Empresa de Navegtação AR Transporte, e tem autorização para levar apenas 232 passageiros e 160 toneladas de carga.
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