segunda-feira, 12 de setembro de 2011

MARAJÓ: CHEGA DE CONVERSA

Por Jader Barbalho -Presidente do PMDB no Pará

Tempos inesquecíveis foram as minhas férias de infância vividas em Marajó. A viagem de Belém até Soure era especial. Meus pais me levavam, junto com meus irmãos, e eu me lembro de fazer a travessia do rio Paracauari em canoa de remo para chegar a Salvaterra. A chegada do navio, como em Mosqueiro, era motivo de festa na cidade. Marajó é uma das mais ricas e belas regiões e, como cedo aprendemos na escola, a maior ilha fluvial do mundo. Depois, como homem público, fiz inúmeras visitas à região, para conhecer seus problemas, sua cultura e inaugurar obras, como a estrada que liga Salvaterra a Cachoeira do Arari.
A Ilha de Marajó sempre foi um lugar de muita beleza e potencialidades. Havia problemas, pobreza, mas ninguém era miserável no sentido cruel da palavra. Há pelo menos duas décadas a pobreza de Marajó virou miséria com todas as suas conseqüências. Existem no arquipélago duas regiões distintas que eu chamo de região dos campos, e a região de floresta densa, de terra firme. Os municípios dos campos viviam da pecuária, da pesca e de algumas atividades turísticas. A região de floresta densa vivia da indústria madeireira e da extração do palmito e do açaí. Ao longo dos anos, uma série de políticas econômicas, algumas delas com a justificativa da preservação do meio ambiente, acabou com a indústria madeireira, sem que houvesse substituição de atividade econômica. Com isso veio uma reação em cadeia do aumento da pobreza em muitas cidades que antes eram prósperas. Eu posso dizer como qualquer um de nós, paraenses, que sinto um certo orgulho saudosista em relação a Marajó: antigamente havia um grande e potente navio chamado “Presidente Vargas” que fazia a linha regular Belém-Soure. Afundou enquanto estava atracado no porto do município marajoara. Soure é uma das poucas cidades brasileiras que foi urbanizada por um arquiteto, o paraense Aarão Reis, o mesmo que projetou e construiu Belo Horizonte. A beleza das praias, as grandes fazendas, os campos, florestas, o passeio de búfalo, o queijo, o artesanato e a cultura da região ainda nos enchem de orgulho. Entretanto, de uns tempos para cá, com a eliminação de várias atividades econômicas, com a ausência de transporte, a falta de energia e de infraestrutura houve um agravamento dos problemas. Marajó vive nas manchetes, cada dia com uma nova denúncia. O Bispo de Marajó, Dom José Luiz Ascona, a quem eu faço uma referência especial, pela sua autoridade e importância, tem denunciado de forma contundente a prostituição infantil. É inaceitável saber que isso acontece numa região conhecida por sua beleza no mundo inteiro. Os piratas, ou ratos d’água como são conhecidos, assaltam e atacam as embarcações. Assaltam passageiros, assaltam a população, roubam os produtos dos trabalhadores. Roubam os pobres. Levam terror a um lugar antes calmo e pacífico. Sem falar nos roubos de gado nas fazendas. Nada escapa da violência.
Em 2007 foi criado pela Casa Civil da Presidência da República um Grupo Executivo Interministerial, para tratar dos problemas da região. Pois bem, esse Grupo fez o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago de Marajó que envolveu quase 100 órgãos federais e estaduais, incluindo uma dezena de ministérios, secretarias estaduais e o gabinete da governadora do Pará. O nome é grande, o volume maior ainda, tem quase 300 páginas de mapas, estratégias, planos, diretrizes e tudo quanto é tipo de palavreado com objetivo de resolver a situação. Até hoje não se tem notícia se alguma coisa foi feita. Aliás, o que se tem de notícia para Marajó é da existência de uma linha de transmissão a ser materializada pela Eletronorte, que vai até o Amapá, segue pela margem esquerda do Pará, no rio Amazonas, para resolver o problema de energia em Manaus (o que não sabemos é se essa energia vai beneficiar a Ilha e as cidades paraenses por onde vai passar o linhão). Além disso, o Plano traz observações simplórias para preservar e conservar a região. Ou seja, a solução proposta é que a Ilha de Marajó seja transformada num santuário ecológico, onde os mártires serão seus quase 500 mil habitantes.
O que nós desejamos são medidas que respeitem a questão ecológica, acompanhadas de ações capazes de movimentar a economia em todas as áreas, por meio de financiamentos de agências estatais como o BNDES, Banco do Brasil e Basa. Estamos fartos de comissões e grupos. Não podemos aceitar que o nosso povo seja o vigia gratuito da natureza. Chega de conversa fiada e discurso ecológico, nós queremos respostas. Em que gaveta de qual ministério ou repartição está o plano feito por esse grupo com muito alarido e publicidade?
O governo do estado, prefeituras, representantes no Congresso Nacional, deputados estaduais, entidades representativas, sociedade civil e imprensa devem chamar a atenção e cobrar do tal Grupo Executivo o que foi feito nesses 4 anos; quais as medidas concretas adotadas para mudar a paisagem socioeconômica da região, porque Marajó tem pressa e o Pará quer respostas.

Artigo publicado no Diário do Pará, em 04 de setembro de 2011

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